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Desporto

“Ganhar com a minha irmã é especial. Vamos tentar repetir este ano”

13 de setembro, 2024
Oeste CIM
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São irmãs, naturais de Guimarães, e duas das maiores promessas do ténis feminino português. Trabalham no Centro de Alto Rendimento do Jamor e voltam a participar no Caldas da Rainha Ladies Open, que decorre entre os dias 15 e 22 de setembro, no Complexo Municipal de Ténis das Caldas da Rainha. Falámos com Francisca e Matilde Jorge sobre o que esperam do torneio, mas também acerca da sua visão do ténis feminino nacional, de como entraram na modalidade e onde esperam estar daqui a dez anos.

- Como é que o ténis surgiu na sua vida?

Francisca Jorge - Os meus pais sempre foram amantes de ténis e desde muito pequenina que quando íamos de férias que me levavam com eles quando iam jogar ténis e pelo que me foi contado eles viam que eu mostrava algum interesse no que eles estavam a fazer e daí que me meteram a experimentar depois já ‘mais crescida’ com 7 aninhos e acho que mostrei desde muito cedo que tinha jeito para a modalidade tanto que com menos de um ano a aprender a jogar comecei a fazer torneios e cheguei até a ganhar logo uma medalha na minha primeira competição.

Matilde Jorge - O ténis para mim apareceu um bocadinho pela minha irmã. Ela quando ia aos torneios, pelo que os meus pais diziam, eu estava sempre com uma raquete e uma bola na mão e quando não sabiam de mim estava eu a bater contra uma parede que havia nos clubes. E acho que foi aí que eles viram que eu também tinha esse ‘bichinho’ dentro de mim.

- Sempre ambicionou que o ténis fizesse parte do seu dia a dia a nível profissional?

FJ – Honestamente, quando comecei a jogar ténis não tinha qualquer ideia de me tornar profissional nesta modalidade ou sequer ambicionava ganhar tudo e a todos. Gostava muito de praticar e de competir e acredito que por ter tido algum sucesso desde tenra idade me motivou a continuar e a querer mais e melhor e acho que foi mais por aí que depois mais tarde comecei a valorizar mais o ténis na minha vida e a querer cada vez mais que o ténis se tornasse a minha prioridade.

MJ - Acho que quando era mais nova tinha esse sonho de ser profissional, mas só se tornou mais real quando vim para o Centro de Alto Rendimento aos 15 anos.

- O que significa ser uma das melhores representantes portuguesas na atividade do ténis?

FJ - Para mim isso nunca foi o objetivo principal no sentido de que ser um dos nomes no ténis português claro que me deixa muito feliz e eu tenho muito orgulho em ser portuguesa e poder representar o meu país, mas o que realmente me motiva mais é poder vir a ser reconhecida a nível mundial. Jogar os grand slams, andar no circuito profissional e poder competir em grandes palcos… isso é que me motiva e de certa forma estar no topo mundial e ser a número 1 portuguesa da atualidade claro que acarreta alguma responsabilidade, mas não deixa de me dar mais motivação para querer ser melhor ainda.

MJ - O ténis feminino tem vindo a crescer ultimamente e acho que tanto eu como a Kika queremos fazer com que cresça ainda mais. Não há tantas referências como no ténis masculino, mas não sinto que seja motivo para não haver mulheres a singrar também no ténis.

- Como se prepara para as competições?

FJ - Não acho que seja uma pessoa muito supersticiosa, mas gosto de ter uma rotina mais ou menos idêntica todos os dias. Pequeno-almoço sempre igual, fazer as coisas com tempo (aquecimento, treino, banho) o que for preciso para eu sentir que estou em controlo do que me vai acontecer em competição. No ténis há muitas variáveis, tanta coisa que nós não controlamos e que pode atrapalhar a preparação pré competição e se pudermos de alguma forma tentar minimizar isso com rotinas ajuda imenso.

MJ - Tento sempre fazer uma boa semana de treinos, tanto ténis como físico. Acho que é importante também uma boa alimentação e recuperação consistentemente para conseguir estar no seu melhor quando chega a hora da competição.

- Em quantas edições do Caldas da Rainha Ladies Open já participou?

FJ - Eu acredito já ter participado em 4 edições passadas por isso está será a minha quinta.

MJ - Este é o meu terceiro ano a participar no Caldas da Rainha Ladies Open e estou muito entusiasmada.

- Quando se entra no court para competir, qual é a primeira sensação que lhe ocorre?

FJ - Sem dúvida que mesmo já com alguma experiência em cima que ainda me sinto um bocadinho nervosa quando vou a entrar em campo, mas já consigo gerir todas as emoções com mais clareza e consigo tornar esse nervosismo em motivação para deixar tudo em campo e dar o meu melhor e fazer por levar a vitória.

MJ - Não acho que aconteça só comigo, mas é sempre normal entrar um bocadinho nervosa para o jogo. Ter uma pequena sensação de adrenalina dentro de nós. Tento sempre estar bastante concentrada e que isso não afete o meu desempenho.

- O que significou vencer, ao lado da sua irmã, o quadro de pares na edição do ano passado?

FJ – Foi muito especial sem dúvida até porque até à data do torneio já tínhamos alguns títulos como dupla nessa época, mas esse foi o nosso primeiro troféu num torneio categorizado com 60 000$ e foi, portanto, o nosso maior título nesse ano.

MJ - Jogar ao lado da minha irmã é sempre especial. Termos conseguido o título o ano passado foi muito bom para nós e vamos fazer por repeti-lo este ano.

- Qual é o sentimento de participar no Caldas da Rainha Ladies Open, uma das maiores competições do circuito ITF realizadas em toda a Europa?

FJ - É sem dúvida gratificante poder jogar torneios deste gabarito ao mais alto nível e ainda mais sendo realizado aqui em Portugal. Este ano vou poder jogar o quadro principal direta enquanto em anos anteriores só foi possível com um Wild Card, como se diz no mundo do ténis que representa uma espécie de convite especial para o evento.

MJ - O torneio tem uma organização excelente, um dos melhores torneios que eu já joguei sem dúvida. Jogá-lo novamente este ano vai ser um privilégio e espero fazer uma boa prestação.

- Para si, é importante que haja torneios apenas no feminino? Porquê?

FJ - Eu acredito que haver torneios apenas no feminino se torna mais fácil ou mais acessível a sua realização no sentido que há menos pessoas a participar, há mais espaço para a malta treinar quer seja nos campos ou no ginásio, por exemplo, há uma maior atenção para com as jogadoras em prol de tornar a sua experiência no torneio o melhor possível porque quanto mais gente estiver a participar menos será a preocupação para com toda a gente por simplesmente é muito trabalho organizar um evento destes.

MJ - Na minha opinião, acho que de vez em quando é sempre positivo haver torneios mistos. Faz um bocadinho lembrar como os Grand Slams ou torneios ‘grandes’ porque também costumam ser masculino e feminino. Mas em termos de organização diria que só feminino é sempre mais acessível tanto a nível de campos para treinar como de pessoas/ confusão no clube.

- Como atleta, o que ambiciona alcançar? Qual é o seu maior sonho neste momento?

FJ - Neste momento o meu maior sonho seria jogar um quadro principal de um Grand Slam tanto nos singulares como em pares.

MJ - Como atleta ambiciono chegar a top 100 WTA e ser a melhor portuguesa de todos os tempos. Neste momento, o meu maior sonho é jogar um Grand Slam.

- O efeito João Sousa ou agora Nuno Borges, como outros no passado, tem impacto em angariar mais praticantes no geral, ou acha que ainda há muito a fazer para trazer mais gente para o ténis feminino?

FJ - Eu acho que o ténis em geral está a começar a crescer bastante, mas ainda temos um caminho longo pela frente, mas acredito plenamente que o facto do João e agora mais o Nuno terem vindo a escrever um legado no ténis português e mais ainda no ténis mundial claro que cativa as camadas mais jovens a trabalhar duro para um dia chegarem ao patamar que eles também conseguiram chegar.

MJ - Sem dúvida que as referências do João e do Nuno são muito importantes para angariar mais praticantes para a modalidade. Acho que no caso do ténis feminino não há tantas, mas o tênis tem vindo a crescer e estou confiante que irá crescer ainda mais daqui para a frente.

- Qual é a sua referência nacional e internacional no ténis?

FJ - A nível nacional eu sempre admirei muito o João Sousa também por ser de Guimarães e pensar que um dia também eu ia sair da cidade e percorrer o mundo como ele o fez. A nível internacional sempre admirei e continuo a admirar o Roger Federer e o Rafael Nadal, todo o trabalho que está por detrás e de certa forma ver que duas pessoas totalmente diferentes conseguiram singrar na modalidade deu-me motivação para ser melhor e continuar a acreditar e trabalhar bem.

MJ - A minha referência nacional sempre foi o João [Sousa]. Ele nasceu em Guimarães como eu e acho que sempre foi o meu maior exemplo desde pequena. Internacionalmente, acho que diria a Aryna Sabalenka. Adoro a atitude e a mentalidade dela e identifico-me bastante com ela neste momento.

- Onde imagina estar, no que ao ténis diz respeito, daqui a 10 anos?

FJ - Daqui a 10 anos eu gostava de me sentir realizada a nível profissional e poder dizer que fui uma jogadora profissional de topo e que ganhei a minha vida com o ténis e quem sabe continuar a competir ou não, dependendo de como o meu corpo se aguentar durante tantas épocas, mas acima de tudo vou-me manter no ténis de alguma forma tenho a certeza.

MJ - Imagino-me já ter jogado todos os Grand Slams e Masters 1000, tanto a singulares como a pares. Espero ter jogado, pelo menos, uma vez os Jogos Olímpicos e ter atingido o top 100 WTA.

Última Atualização 12 setembro, 2024

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